Há vinte anos, eu saia para percorrer o Estranho Caminho de Santiago na Espanha Medieval. Uma trilha na época pouco sinalizada e mal conhecida, repleta de mistérios e magias.
Seguia setas amarelas e dormía na casa de moradores que recebiam os peregrinos como se recebessem o apóstolo Tiago. Um Caminho de descobertas, de desapegos, de autoconhecimento.
Embora tivesse a proposta de Caminhar sozinha, eu sentia muitos medos e, logo no inicio, me juntei a um rapaz porto-riquenho que era estudioso de símbolos.
Por medo de assumir meu próprio Caminho e me desculpando pelo que poderia aprender com ele, me deixei ser guiada por Victor. Num determinado momento me surpreendi que não decidia nada, não fazia nada o que queria fazer, ele estava fazendo e traçando meu Caminho. Decidia onde iríamos visitar, onde iríamos comer, qual era hora de parar ou não, carregava meu cantil térmico com água fresca, tudo em nome da generosidade, da gratidão por ele não me deixar sozinha e me ensinar uma ou outra coisa.
Meu maior medo, camuflado pelas bruxas e cachorros demoníacos que temia encontrar, na verdade era enfrentar a mim mesma, enfrentar um caminho feito com as minhas decisões. Isso é: Viver Sozinha a minha própria estória e ser responsável pelos meus erros, não tendo a quem culpar. Ironia! Fui para viver meu Caminho e o que fiz foi me deixar guiar pelo que os outros decidiam para mim.
Meu maior medo, camuflado pelas bruxas e cachorros demoníacos que temia encontrar, na verdade era enfrentar a mim mesma, enfrentar um caminho feito com as minhas decisões. Isso é: Viver Sozinha a minha própria estória e ser responsável pelos meus erros, não tendo a quem culpar. Ironia! Fui para viver meu Caminho e o que fiz foi me deixar guiar pelo que os outros decidiam para mim.
Um dia, o mais difícil de todos, eu fui visitar a Catedral de Burgos. IMENSA! Pessoas de todos os lugares do mundo transitavam ali. Sai da catedral e Victor já estava com “nossa” etapa (minha vida) definida. Pernoitaríamos ali num hotel. Eu peguei minha mochila, com uma Fé maior que meus medos e falei para ele: “Você fica, eu vou! A gente se vê em Santiago”.
Saí sozinha e dormi num hotel na beira da estrada. Caminhei perdida por um deserto de plantação, senti fome, sede e... me encontrei. Segui o rumo certo, o da certeza e, dois dias depois, conheci meu guia espiritual que me levou aos lugares mágicos e sagrados até mesmo fora da rota peregrina. Carregou minha mochila, me ensinou a rezar, a beber vinho e eu pude viver o Caminho que eu realmente queria, vivi a minha estória.
O Caminho de Santiago é isso, uma experiência que me reporto mesmo vinte anos depois.
Só estamos inteiros e prontos para recebermos as bênçãos, quando sabemos que estamos. Só somos inteiros quando não precisamos de um outro para nos "amuletar” na nossa trajetória, seja por qualquer interesse, para elevar nossa auto-estima, para mostrar para as pessoas algo que não acreditamos sobre nós, quando usamos o outro para ganhar algo quer seja conhecimento ou qualquer tipo de vantagem. Isso nos empobrece e nos torna miseráveis diante da vida. Uma vida rica é rica de desafios.
Assumindo que podemos viver o Caminho que queremos e não o que esperam de nós ou que nossas inseguranças nos conduz.
Nessa iniciativa, de estarmos prontos para combater o “Bom Combate”, que nos tornamos íntegros, éticos e aptos para as bênçãos a que viemos viver aqui.
Não viva para os outros nem para seus desejos imediatos. Viva cada dia para se tornar melhor diante de si mesmo e as bênçãos virão e você chamará de milagre, mas milagre foi a sua transformação.